domingo, 24 de junho de 2007

Tempo...

Passado tanto tempo já não causas em mim esse tremor, que outrora me matava com o olhar.
Lembro agora com um leve sorriso que me apaixonei por ti, mas não foi paixão a primeira vista.

Foi acontecendo devagarinho foste entrando em mim entre avanços e recuos, tentámos jogar o jogo da verdade ou consequência,claro está eu perdia sempre, a tua rara beleza e a tua excessiva auto estima por vezes irritava-me e causava-me um misto de raiva e de orgulho por ter a sensação que só pertencias a mim.
Do abraço ao toque, do toque as carícias foi um passo.
Essas carícias desencadearam um processo químico nunca visto…
O toque, o beijo, o doce odor, o olhar … absorvia-nos.
Todo o mundo podia cair a nossa volta mas o quarto, a sala, o corredor, a cozinha, as escadas, a praia, a montanha, independentemente de onde estivéssemos a amarmo-nos fazia parecer que mais nada existia.
E esse fogo ia-nos consumindo a pouco e pouco e lentamente até que ao fim de alguns meses ia-se extinguindo, sem que qualquer um de nós fizesse o mínimo esforço para reacende-lo, e apercebíamo-nos disso, mas fingíamos não estar a acontecer.
O quotidiano, o emprego, o stress, eu sei lá mais o quê eram desculpas silenciosas mais que suficientes para aquilo que se ia desmoronando dia após dia, mês após mês.
Por fim duvidamos de tudo, pomos tudo em causa, a culpa é dos pais meterem o "bedelho" em tudo, é da criança que passa a vida a fazer birras, é do telefonema do amigo, que para nós passa a amante, mas porquê ciúme? "afinal ela está a ficar com aquele papo debaixo do queixo", ele deixou crescer a barriga, as marcas da idade outrora charmosas deram lugar a defeitos irreversíveis só ultrapassados (achamos nós) com a incessante busca de “ carne fresca “ repartida entre “nights” de boémia, "quecas" mal dadas e noites mal dormidas.

É como se quiséssemos ser realizadores e actores de um filme com o título de “em busca da juventude perdida” com a duração de um mês, um ano se tanto.
Depois, quando o filme acaba, ficamos ali no sofá com saudades do riso das crianças e daquela cara com o papo debaixo do queixo que no fundo até lhe dava um certo charme e aquela barriguita descaída que já conhecia todos os defeitos, virtudes, hábitos e todas as formas que há de amar.

1 comentário:

Smootha disse...

Uma perfeita descrição de um casamento... :)